Creio que essa seja a fase mais investigativa que já vivi. Tudo tem se tornado cada vez mais ATRAENTE, e taí uma palavra que está sempre nos meus pensamentos.
No Jardim das Delícias, a atração foi recíproca. Nele os infinitos portais se abrem constantemente pra mim, deixando a descoberta cada vez mais consciente.
O mais excitante foi o ponto de partida que escolhi que me fisgou na mesma via.
Cheguei em um local singular que eu já havia conhecido antes, vibrando no tempo certo. Redescobri um oásis no Rio, que me transporta para longe, exatamente nesse sentido da palavra que é falada aqui, referenciando algo que está lá.
A construção do meu ateliê neste ambiente, cercado por vegetação, me expandiu as visualizações para o que já existia em minha consciência. Meu envolvimento e dedicação com as folhagens me reaproximou da compreensão de espaço, duração e sentido. Mergulhei na organicidade perfeita que a natureza constrói. Nesse meio, encho os pulmões de abstrações para os questionamentos no meu ofício. Meus estudos começaram junto do verde do meu jardim, se misturando a retomada de estudos do corpo humano. Um detalhe: A figura humana tinha sido algo que eu havia afastado do meu trabalho na fase anterior.
Comecei a abordar novos desdobramentos em meu processo de desenho. Em minhas produções, uso a terra do meu jardim e dou lugar a adaptação, a fusão de formas entre corpos, folhas e cores, transpondo a história e energia do local para as obras. Me conecto com o equilíbrio e perfeição da natureza.
Busco inspiração na Obra de Bosch de 1504, nomeada Jardim das Delícias Terrenas, que remete a um universo lúdico de adaptações. O mais divertido dessa história é que Bosch não possuía a luz das teorias evolucionistas de Darwin, mas já vislumbrava seres adaptados, mutados em suas pinturas.
Com esse nexo, dou origem a trabalhos com inúmeros simbolismos que atribuem sentidos às criações, essas relações se tornam imagéticas. Em alguns casos se revelam e em outros precisam ser desvendados, envolvidos de um clima fantasioso, dentro de um universo idílico.
Aprecio formas carregadas de traços orgânicos, dialogando com cores envolventes, dispostas de forma vigorosa.
Nessa pegada, sigo construindo meu trabalho, minha utopia, meu universo fabuloso.